sábado, 27 de outubro de 2007

MIGUEL TORGA


AR LIVRE
Ar livre que não respiro!
Ou são pela asfixia?
Miséria de cobardia
Que não arromba a janela
Da sala onde a fantasia
Estiola e fica amarela!

Ar livre,digo-vos eu!
Ou estamos nalgum museu
De manequins de cartão?
Abaixo!E ninguém se importe!
Antes o caos que a morte...
De par em par,pois então?!

Ar livre!Correntes de ar
Por toda a casa empestada!
(Vendavais na terra inteira,
A própria dor arejada,
- E nós nesta borralheira
De estufa calafetada!)

Ar livre!Que ninguém canta
Ar livre!Que ninguém canta
Com a corda na garganta,
Tolhido de inspiração!
Ar livre,como se tem
Fora do ventre da mãe
Desligado do cordão!

Ar livre,sem restrições!
Ou há pulmões,
Ou não há!
Mas tenham fartas as mesas
Do ar que a vida nos dá!
In,CÂNTICO DO HOMEM

1 comentário:

Anónimo disse...

Foi bom lembrar Torga.

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